quarta-feira, 15 de abril de 2015

Riquezas...

Sobre a mesa, sempre livros! Ao menos quatro, e todos raros,
destacando -se à toalha de renda branca,velha e já remendada.
No ar,um cheiro de café coado na hora. Uma linda e 
delicada xícara com bule de porcelana, a mesma, já gasta 
na beirada dourada.Um pedaço  de bolo quentinho
no prato... 
As cadeiras quase feitas à mão, velhas, mas detalhadas em  traços
de verniz. Alguns porta-retratos já se desmanchando...família!
Na soleira da porta, uma figa, isso, só por causa de crença
antiga!
A costura dobrada sobre a máquina de pedal, as agulhas
espetadas numa almofadinha, linhas coloridas, o dedal...
O vento, de quando em vez, só brincando com as pontas 
dos tecidos sob a janela aberta.
No quintal,um canário cantando humildemente, escravizado
à cultura da época,não havia consciência para deixá-lo em 
liberdade.
Na cozinha,sobre a pia,uma garrafinha de azeite e ervas finas,
panelas ariadas em brilho intenso,vasos com plantinhas ...por
toda a casa, suavidades e cuidados sem fim.
Pendurado ao lado do fogão de orelhas, um pano, galo e galinha
pintados com  humor. No forno, o pudim de pão!
Lá fora, o jasmim plantado de propósito em arco, enfeitando o 
portão...
Haviam caixinhas embrulhadas sobre um móvel, uma a uma,
amarradas com fino cordão e na parede, uma santa de devoção!
O que tinha nas caixinhas? Ah, tinha mimos de mocidades, de
vaidades, guardadas ao longo da vida.Botões bonitos, uns brincos,
broches e  velhos berloques, medalhinhas, anéis sem tanto valor...
Na sala, sobre a cristaleira, uma estátua de singelo jornaleiro, tudo
era assim,muito doce, muito deles, muito meus, meus avós...meus 
costumes, parte das minhas referências, riquezas sem fim...vidas...

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